quarta-feira, 6 de outubro de 2010

olho gordo

A minha família tem um vidente e o nome dele é mEugênio. Esse ano houve um fenômeno que popularizou o mEugênio e agora  ele é o guru de todas as minhas primas e, mais recentemente, da Crisinha, minha amiga e o outro 1/3 desse blog.

Enfim, sobre o mEugênio: o mEugênio falou comigo e com a Cris que a gente tem que se preservar mais, e tomar cuidado porque somos pessoas que atraímos muito olho gordo.

"Grandes bosta", é o que você deve estar pensando. Eu sei, eu sei. O vidente só fala o que a gente quer ouvir e todo mundo adora ficar sabendo que em alguma coisa a gente deve ser melhor que os outros. A princípio a gente pensou a mesma coisa, afinal, quem quer ser que nem a gente? Quem quer ser uma solteirona com muitos namoros fracassados no currículo, um histórico de abuso de substâncias/comida/coca-cola e um grande talento pra não ter um emprego bem sucedido? Aparentemente, ninguém.

E a lista não para por aí, rolou uma gastroplastia, uma ou duas depressões profundas, cortes de cabelo desastrosos, investimentos fracassados, famílias despedaçadas, faculdades interminadas... Todo um leque de coisas que torna a vida de um ser humano num verdadeiro inferno. Mas aí eu te pergunto: a gente tava aos prantos no McDonald's enquanto listava todos os nossos fracassos?

NÃO. A gente tava era chorando de rir, engasgando com as nossas batatinhas e derramando refrigerante em cima dos nossos Chéderes.

Nós não ganhamos um salário digno, nós ainda moramos com os pais (bom, a Cris mora num puxadinho que tem um cômodo de cara cor, ela nem pode reclamar disso), nós temos interesse por milhões de coisas, talento para mais umas centenas e vontade de ganhar dinheiro com nenhuma. Mas a gente tem uma à outra, e à Lídia, e aos nossos amigos que gostam da gente, e às nossas famílias sensacionais, e nós somos lindas e bem vestidas e inteligentes (somos mesmo), e a gente tem o maior dom (haha, dom) de todos, que é o de rir da nossa própria desgraça.

Conheço muitas pessoas que passaram por situações semelhantes às nossas e que, por terem que carregar um fardo tão pesado, triste e difícil, acham que podem vomitar no seu carro porque beberam demais pra afogar as mágoas e que são dignas da pena de todo mundo que encontrou nas Baianas na quinta à noite.

E nós, que somos legais demais, não perebemos de cara que tem essa galera parasita à solta por aí. Confundimos elas com pessoais sensacionais, como a gente, e deixamos elas entrarem nas nossas vidas e fazerem o escambau com os nossos sentimentos.

O que eu quero dizer é que nem sempre a gente para pra pensar no quanto a nossa vida é boa, e que olho gordo tá em todo canto e que a gente deve ser preservar, sim. A gente fica ocupada demais fazendo piada sobre a mancha de tinta fresca na nossa bunda, que nós não vemos que do nosso lado tem uma pessoa rancorosa e infeliz desejando que a gente seja tão miserável quanto ela.  Nós somos pessoas boas e azar de quem não vive como a gente.

E que se preservar inclui se cercar de gente legal, aliás, gente sensacional, que nem a gente, e que sabe combinar uma estampa de coraçãozinho com litras e xadrez, tudo ao mesmo tempo. E que se a gente tá no inferno, o melhor a fazer é apontar pro capeta e rir do chifrinho dele - francamente, por que um cara vermelho com um rabinho pontudo segurando um garfo deve ser uma figura autoritária digna de respeito e temor?

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