terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sete-pele

Que agosto é um mês ingrato não é novidade nenhuma, mas esse agosto passado foi muito além do desgosto e do mau gosto. Além de não ter feriados, ser nessa época mequetrefe de mudanças climáticas, fim de férias e o escambau, dizem que é o mês do diabo. Mais precisamente, o dia 24 de agosto é conhecido por ser aquele em que a besta solta fogo pelas ventas percorrendo os céus. Misticismos à parte, esse mês não é fácil. 

Relacionamentos começam e relacionamentos terminam, fato. Muitas vezes esses processos são cansativos ou dolorosos mas o consolo é que depois que acaba, acaba. A surpresa vem quando meses depois de findado o tal relacionamento ele (ou a ideia que se tem dele) ainda te dê dor de cabeça. Aí, meu amigo... Aí você tá fodido. Nossa querida Cris, que pelo bem geral da nação e das moças desavisadas, resolveu expor seu drama (no último post). Acontece que ela teve um lapso de consciência um dia e resolveu dar uma chance pra cria do cão. Só de olhar, numa primeira observada bem cheia de julgamentos, logo se via que a criatura não era benta (e esteticamente distante do que minha tão querida amiga merece). Previ que o fracasso estava perto quando em um belo dia, na nossa própria casa, depois de ter comprado, feito e servido o jantar para todos, o Cramunhão (bendito seja!) ao se ver perante a uma mulher (eu) que reclamava de cólica intensa - depois de cozinhar a comida que nessa altura já estava em sua boca ácida - começa a rir descaradamente e solta o seguinte impropério: ninguém mandou nascer mulher, na.minha.própria.casa. BITCH, PLEASE! 

Depois disso foi só ladeira abaixo e agora, depois de alguns meses de fim dessa bela e rica relação, o bonitinho resolve aparecer mandando uma carta, onde ele narra a história da relação dos dois como uma história, na terceira pessoa (tão original) falando como se ele tivesse dormido esse tempo inteiro e não estivesse lá, de fato (vou deixar para falar  dos erros de concordância e ortografia em uma próxima colocação ). E ainda aproveitando a chance para tentar destruir a auto estima, a dignidade e a paz interior da MINHA BROTHER. Mas o lance é o seguinte, ô anhangá, mexeu com minha amiga, mexeu comigo. E pra quem não sabe, além dessa carinha de princesa eu tenho 1,80m de altura e muita força nos braços (que se potencializa quando eu fico com ódio). Mas... como tenho procurado evitar prisões ou processos, apesar da mãe advogada e feminista, resolvi fazer diferente. Lanço agora aqui o projeto Fique Bem, um tributo à Sophie Calle, onde cada dia (por quantos dias forem necessários) alguém vai fazer sua leitura da bela carta (que vou colocar nos comentários). Se alguém quiser participar, é só mandar por comentário ou e-mail pra gente. Preparem seus coraçõezinhos. E, Cris, sério, por você eu cairia no braço com o sete-pele. Te amo. <3 

sábado, 1 de setembro de 2012

Lobo em pele de cãozinho abandonado.

  
  Aí você vai em uma balada despretensiosa. Lá, encontra um menino com cara de cachorrinho abandonado, tão sarnentinho e desajeitado que você resolve levar para casa. 
O cachorrinho vai ficando, ficando. Ele é meio sem jeito, um pouco incômodo mas você pensa: o bichinho tava abandonado, só precisa de um pouco de amor. Ele rói seus sapatos, faz xixi no carpete, late para seus amigos. Você respira fundo; paciência, paciência. O cãozinho vai tomando cada vez mais espaço. Come toda a sua comida, demanda passeios constantes, quer atenção integral. Ele não dá nada em troca mas você acredita em resgatar animais de rua, pobre do cachorro, vai aguentando como pode. Se agarra ao mantra: paciência, paciência. Tenta adestrar o cachorrinho, tenta conversar com o cachorrinho. Ele não é muito apto a aprender mas você acha que pelo menos ele não é capaz de fazer mal a ninguém, bichinho inocente que é.
  Um dia, você olha em volta e vê que sua casa se tornou um canil bagunçado e fedorento; finalmente, manda o mantra da paciência pastar e o cachorrinho também, até você tem seus limites.
 Você se sente mal mas é mesmo uma iludida e pensa que você e o cachorrinho podem ser amigos, que existe dignidade nas relações e tal. Ah, a ilusão é uma coisa linda, até que acaba. Cachorrinho continua terrível, você está cansada e resolve encerrar as tentativas de amizade. A coisa já está ficando deselegante e você, bestinha que é, prefere finalizar a história com algum respeito mútuo. O bicho, de cãozinho vira lobo e te manda uma carta que, fosse uma mordida literal, arrancaria no mínimo um braço ou perna. 
  Tem umas expressões bem elegantes mas eu ainda não sou capaz de reproduzir. Quem quiser a carta na íntegra pode pedir nos comentários ou por e-mail que eu mando. E aqui eu perdi o tom da historinha porque olha, ainda estou assustada demais. As outras Tá me Chamando de Gorda vão fazer intervenções aí com o material mesmo da carta, uma vibe Sophie Calle de ser e viver, porque pra mim foi demais. 
  Pois é, turminha, resgatar bichinhos abandonados é lindo, mas fiquem atentos porque vocês podem tomar uma mordida e seu cachorrinho abandonado pode estar cheio de raiva e de rancor.