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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Machismo tá na moda?

Desde que me mudei pra Curitiba, em março de 2011, não tenho televisão em casa. No início me senti uma revolucionária, depois uma excluída. Mas confesso que eu adoro e até sinto falta de ver esses reality shows babacas de gravidez na adolescência, dietas, plásticas, reformas e mudança no visual. Até porque, uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida é reclamar e ficar xingando o mau gosto alheio é tipo um hobby pra mim. 

Vim passar uma semana na casa da mamãe e tenho ao meu dispor uma televisão gigante com uma gama de canais à cabo. Consigo passar um tempo consideravelmente grande assistindo bobagens mas eis que um programa realmente conseguiu me tocar: Your style in his hands (Dormindo com meu estilista). 

O nome já é bem sugestivo, mas tentem imaginar a seguinte situação: uma mãe que trabalha em um hospital 10 horas por dia, tem dois filhos pequenos, uma casa enorme e um marido. Essa mulher que além de trabalhar e se preocupar com a sua própria saúde, entretenimento, com a educação dos filhos e com a família SUPOSTAMENTE precisa pensar um pouco mais no quanto o seu querido marido sente falta de vê-la usando babydoll transparente de oncinha. Afinal, o valor das relações mora aí, né. Aí algum inteligentão inventou o reality show mais escroto do mundo que funciona assim: a mulher sai de casa, o marido vai até o seu guarda roupas e separa todas as roupas, sapatos, acessórios e roupas íntimas que ele não quer mais ver em sua bela donzela e joga em um INCINERADOR DE ROUPAS (de verdade, é uma máquina como aquelas de escritório de picar papel feita para roupas). Aí ele vai SOZINHO comprar o armário dela do jeito que ele achar melhor. Algumas das chamadas do programa dizem inclusive "ela não tem nenhum controle do que vai vestir" e "o marido tem total liberdade para escolher como sua esposa deve se vestir".

Assistir a esse programa começou a me causar um desconforto tão grande que eu mal estou conseguindo articular meus pensamentos. Eu não sei o que merece mais atenção: a iniciativa de criar um programa que deixa a mulher numa posição tão vulnerável e suscetível aos desejos do homem ao ponto de deixar de ter voz em uma coisa tão básica quanto vestir-se; os casais acharem a ideia legal e quererem participar desse circo; um cara achar que a esposa não pode usar moletom ou ter uma calcinha grande porque não é suficientemente sexy pra vida real ou uma mulher achar que sua opinião, conforto, vontade, desejo sejam menos importantes do que a vontade do marido dela de ter uma mulher gostosa pra gringo ver.

Tentando não deixar essas observações preliminares me fazerem desligar a televisão continuo assistindo ao espetáculo de um indivíduo que joga fora todas as calcinhas de sua esposa e as substitui por 6 conjuntos de lingerie de enfiar na bunda, com renda, babados e cinta liga esquecendo-se de detalhes básicos do tipo: as mulheres passam 1/5 do mês menstruadas, por exemplo. Ou que talvez um fio dental não seja a opção mais confortável pra uma enfermeira ou que talvez a esposa dele ache feio ou desconfortável ou odioso, apenas (afinal, a bunda é dela, a boceta, mas quem decide o que vai ficar ali por cima é ELE). Aí esse mesmo marido acha por bem jogar todos os tênis que essa mulher usa no seu dia-a-dia corrido e os substitui por: 4 saltos de 15cm, 2 anabelas de 10cm e uma bota de cano altíssimo. Ótimas escolhas! Eu mesma só vou pro trabalho, pro mercado, pra faculdade e pro banheiro de salto agulha. Tá de parabéns!

Será que o que leva uma mulher que tem uma filha de 4 anos e um filho de 1 ano a andar de moletom é apenas uma vontade incontrolável de ficar menos atraente para o seu marido? CLARO! COM CERTEZA! Porque tudo o que as mulheres fazem na vida está condicionado aos desejos de seus belos maridos, não é mesmo, meninas? 

Da limpeza inicial do armário da mulher que tinha basicamente calças jeans e calças de moletom, camisetas, tênis e casacos não sobrou nada. Mas o desejo incontrolável de seu lindo esposo em ter uma mulher atraente o fez comprar APENAS mini shorts, mini blusas, mini saias, mini vestidos, saltos, calcinhas fio dental etc etc etc. 

Depois dessa folia toda, o marido vai torrar o resto do dinheiro com a apresentadora/estilista e terminam, ao fim do dia, gastando $7.500,00 em roupas que eles acham adequadas para uma mãe sexy do século XXI. E é isso. Em 2013 milhões de pessoas param para assistir a esse belo show escancarado de machismo em um nível mundial. Só pra finalizar esse pequeno desabafo, termino com um diálogo entre a apresentadora e o marido:

- Você quer que ela use meia fina? 
- Sim. 
- E quando ela vai usar meia fina, Luke?
- Quando ela estiver limpando a casa e cozinhando.

Sem mais.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sete-pele

Que agosto é um mês ingrato não é novidade nenhuma, mas esse agosto passado foi muito além do desgosto e do mau gosto. Além de não ter feriados, ser nessa época mequetrefe de mudanças climáticas, fim de férias e o escambau, dizem que é o mês do diabo. Mais precisamente, o dia 24 de agosto é conhecido por ser aquele em que a besta solta fogo pelas ventas percorrendo os céus. Misticismos à parte, esse mês não é fácil. 

Relacionamentos começam e relacionamentos terminam, fato. Muitas vezes esses processos são cansativos ou dolorosos mas o consolo é que depois que acaba, acaba. A surpresa vem quando meses depois de findado o tal relacionamento ele (ou a ideia que se tem dele) ainda te dê dor de cabeça. Aí, meu amigo... Aí você tá fodido. Nossa querida Cris, que pelo bem geral da nação e das moças desavisadas, resolveu expor seu drama (no último post). Acontece que ela teve um lapso de consciência um dia e resolveu dar uma chance pra cria do cão. Só de olhar, numa primeira observada bem cheia de julgamentos, logo se via que a criatura não era benta (e esteticamente distante do que minha tão querida amiga merece). Previ que o fracasso estava perto quando em um belo dia, na nossa própria casa, depois de ter comprado, feito e servido o jantar para todos, o Cramunhão (bendito seja!) ao se ver perante a uma mulher (eu) que reclamava de cólica intensa - depois de cozinhar a comida que nessa altura já estava em sua boca ácida - começa a rir descaradamente e solta o seguinte impropério: ninguém mandou nascer mulher, na.minha.própria.casa. BITCH, PLEASE! 

Depois disso foi só ladeira abaixo e agora, depois de alguns meses de fim dessa bela e rica relação, o bonitinho resolve aparecer mandando uma carta, onde ele narra a história da relação dos dois como uma história, na terceira pessoa (tão original) falando como se ele tivesse dormido esse tempo inteiro e não estivesse lá, de fato (vou deixar para falar  dos erros de concordância e ortografia em uma próxima colocação ). E ainda aproveitando a chance para tentar destruir a auto estima, a dignidade e a paz interior da MINHA BROTHER. Mas o lance é o seguinte, ô anhangá, mexeu com minha amiga, mexeu comigo. E pra quem não sabe, além dessa carinha de princesa eu tenho 1,80m de altura e muita força nos braços (que se potencializa quando eu fico com ódio). Mas... como tenho procurado evitar prisões ou processos, apesar da mãe advogada e feminista, resolvi fazer diferente. Lanço agora aqui o projeto Fique Bem, um tributo à Sophie Calle, onde cada dia (por quantos dias forem necessários) alguém vai fazer sua leitura da bela carta (que vou colocar nos comentários). Se alguém quiser participar, é só mandar por comentário ou e-mail pra gente. Preparem seus coraçõezinhos. E, Cris, sério, por você eu cairia no braço com o sete-pele. Te amo. <3