sábado, 1 de setembro de 2012

Lobo em pele de cãozinho abandonado.

  
  Aí você vai em uma balada despretensiosa. Lá, encontra um menino com cara de cachorrinho abandonado, tão sarnentinho e desajeitado que você resolve levar para casa. 
O cachorrinho vai ficando, ficando. Ele é meio sem jeito, um pouco incômodo mas você pensa: o bichinho tava abandonado, só precisa de um pouco de amor. Ele rói seus sapatos, faz xixi no carpete, late para seus amigos. Você respira fundo; paciência, paciência. O cãozinho vai tomando cada vez mais espaço. Come toda a sua comida, demanda passeios constantes, quer atenção integral. Ele não dá nada em troca mas você acredita em resgatar animais de rua, pobre do cachorro, vai aguentando como pode. Se agarra ao mantra: paciência, paciência. Tenta adestrar o cachorrinho, tenta conversar com o cachorrinho. Ele não é muito apto a aprender mas você acha que pelo menos ele não é capaz de fazer mal a ninguém, bichinho inocente que é.
  Um dia, você olha em volta e vê que sua casa se tornou um canil bagunçado e fedorento; finalmente, manda o mantra da paciência pastar e o cachorrinho também, até você tem seus limites.
 Você se sente mal mas é mesmo uma iludida e pensa que você e o cachorrinho podem ser amigos, que existe dignidade nas relações e tal. Ah, a ilusão é uma coisa linda, até que acaba. Cachorrinho continua terrível, você está cansada e resolve encerrar as tentativas de amizade. A coisa já está ficando deselegante e você, bestinha que é, prefere finalizar a história com algum respeito mútuo. O bicho, de cãozinho vira lobo e te manda uma carta que, fosse uma mordida literal, arrancaria no mínimo um braço ou perna. 
  Tem umas expressões bem elegantes mas eu ainda não sou capaz de reproduzir. Quem quiser a carta na íntegra pode pedir nos comentários ou por e-mail que eu mando. E aqui eu perdi o tom da historinha porque olha, ainda estou assustada demais. As outras Tá me Chamando de Gorda vão fazer intervenções aí com o material mesmo da carta, uma vibe Sophie Calle de ser e viver, porque pra mim foi demais. 
  Pois é, turminha, resgatar bichinhos abandonados é lindo, mas fiquem atentos porque vocês podem tomar uma mordida e seu cachorrinho abandonado pode estar cheio de raiva e de rancor. 

8 comentários:

  1. Não é a toa que eu sou uma cat person. Essa carreira de adestradora não é fácil.até porque tem muito cachorro no mundo que de tanto apanhar da vida (ou por natureza mesmo) desaprende maneira de ouvir, de pensar, de falar, de analisar, enfim: viram uma classe sem linha, sem pedigree, sem dignidade e tentam passar tudo isso de ruim que eles tem e não sabem lidar pra quem possa chegar perto. Mas calma, anti rabica é fácil de achar.

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    1. Me leva ali no hospital que eu vou tomar umas três doses, só pra garantir.

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  2. não é à toa que a lika é (era, pq me abandonou) minha gêmela. adote um gato. beijos.



    ps: adoraria ler a carta deselegante, mas vou deixar a privacidade de vcs. haha

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=JLDCb4c1sSE
    "...Front and back!"

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  4. Gatos, alem de limpos e inteligentes, sao muito mais bonitos. Nao demandam muito trabalho, sao independentes e quietos. Na proxima vez que for a rua, so olhe para os gatos. So para os gatos bonitos e nada de vira-latas.

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