quarta-feira, 14 de março de 2012

A vizinha gorda.

Além de ser o meu vizinho mais bonito da época, Gustavo também era irmão da minha melhor amiga Gabriela. Tudo se justificava com o passar do tempo: eles eram mais velhos que eu, na casa dos vinte e poucos anos e eu com dezessete. Eram fascinantes as manobras que eles faziam para me colocar dentro das festas curitibanas aonde somente era permitida a entrada de maiores de dezoito anos. Éramos um grupo que se divertia e acabei me envolvendo com Gustavo, um dia ele me olhou e disse que eu era bonita e desde passamos a nos encontrar escondidos e foi um romance louco e explosivo. Era escondido porque nossas mães eram amigas e minha mãe o achava um cara babaca e me mataria se soubesse de algo, a mãe dele não me aprovaria por eu ser pobre, já que ela sonhava com um casamento promissor para o filho (uma vez que nem o segundo grau ele havia terminado).
Mas o escondido ficou público quando fomos pegos juntos, por nossas mães, na frente da minha casa. Foi um bafafá maluco e minha mãe me fez prometer que não ficaria mais com ele. Prometi de dedos cruzados, mas o fiz.

Uma tarde de inverno, ele tocando violão na varanda de sua casa e quando me viu passar, me convidou pra entrar. Entrei, ninguém estava em casa e ficamos naquela situação de mão lá, aqui... A porta da sala se abre e a mãe dele fica chocada com a cena no sofá. Quero deixar bem claro que estávamos vestidos, mas tudo parecia chocar a mãe dele. Depois disso, ela contou até para o padre sobre minha conduta, resultando numa grande confusão. Até que minha amiga Gabriela veio ter uma conversa muito séria comigo. Ela disse em letras garrafais: Amanda, desista! Meu irmão nunca vai namorar você porque você é gorda! GORDA!

Tudo bem que eu realmente era gorda, mas isso não desqualifica você de namorar alguém, de tirar seu direito de se apaixonar, de ser gente e ser respeitada. Eu não precisava namorar o irmão dela e também não precisava de amigos assim ao meu redor, afinal de contas, eu só era a vizinha gorda e o assunto foi arquivado.
Os anos se passaram, eles na casa dos trinta, eu na casa dos vinte. E olha a triste conspiração do destino: Gustavo se casou e depois da gravidez, sua esposa ficou obesa. Gabriela também é mãe e engordou absurdamente. Imagino que ela deva usar 44 e seu manequim 34 ficou somente nas fotografias. Bom, eu tô bonita e sempre que os encontro na rua, sinto que eles acham o mesmo, principalmente Gustavo! Uma pena.


Este texto é mais uma colaboração graciosa pro Thammy! Dessa vez foi a Ariadne que decidiu compartilhar. Se alguém chamou algum de vocês de gordo, se sofreram bullying ou se simplesmente têm alguma história engraçadinha que queiram compartilhar, é só mandar pra gente: tamechamandodegorda@gmail.com

Tá me chamando de gorda comenta: tudo bem que passar do 34 pro 44 é um ganho considerável de massa corpórea, mas continuamos achamos que as 44 são todas umas lindas!

2 comentários:

  1. Cara, quando eu era adolescente, realmente achava que ser gorda me impedia de ter qualquer tipo de relação amorosa. Eu me achava gorda, mas vendo as fotos hoje em dia, percebo que isso estava mais na minha cabeça do que no meu corpo, de fato. Hoje em dia, eu vejo como isso, o peso, o tamanho, o número da sua calça, não tem nada a ver com o fato de ser atraente. Nunca fui magrela e provavelmente nunca serei, porque esse não é o "shape" do meu corpo. Desde o final da minha adolescência até hoje, já emagreci muito em algumas épocas e acabei caindo na sanfona (como é conhecido o ciclo de engordar e emagrecer repetidas vezes). Pensando em todos os preconceitos na atual ditadura da magreza, acho muito engraçado o fato de que nas épocas em que eu estive mais gorda foram as épocas em que eu fiz mais sucesso com o sexo oposto. Moral da história: você é o que você irradia, o que você transmite para as pessoas. E isso só se aprende vivendo, se permitindo viver, tentando enxergar o que você é de verdade, do que você é capaz. A verdade é que a maioria das pessoas, especialmente as mulheres, não querem ver você bem. Para que mais uma mulher bonita como concorrente? É preciso se libertar para ser realmente feliz.

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    1. Sabe, ser gorda não impede as pessoas de terem relações amorosas e concordo plenamente quando você diz que o que importa é o que mostramos pras pessoas. Acho mesmo que devemos tentar passar o melhor de nós, sempre. Nunca ter o shape de magrela não é, de longe, nenhum problema, muito pelo contrário. O que importa mesmo é como somos por dentro, né? Eu, particularmente, fiquei super feliz por você ter compartilhado um pouquinho. Eu sei como é passar por esse processo de não-aceitação e sei também como é superar isso. Keep going, lady! We're awesome! :)

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